domingo, 10 de abril de 2011

Resenha de parte do livro "Teorias da Arte", de Anne Cauquelin

A filósofa Anne Cauquelin abre uma discussão sobre o termo “Teorias da arte”, titulo de seu livro que, diga-se de passagem, é bem interessante. Na introdução ela trata do significado do termo no singular e no plural, definindo-o no singular como uma junção das análises de diversas pessoas e no plural como uma classificação das diferentes artes, agrupando-as de acordo com algumas semelhanças, sejam de estilo, ideologia, época, localização ou outras. Faz ainda uma reflexão sobre a necessidade e possibilidade de haver uma Teoria para a Arte : “trata-se de teorias científicas?”, “A arte é ou não compatível com um tratamento científico?”, “Há necessidade de saber alguma coisa sobre essas teorias ou é melhor ignorá-las para nos dedicarmos ao deleite, ao prazer que a teorização irá colocar distância?”
O significado da palavra Teoria é bem esclarecido no texto, definida como uma procissão organizada que visa a um objeto que ela constrói ou sustenta e que mesmo não sendo necessariamente lideres, tem uma ação determinante sobre o objeto visado. É a partir desta definição que o termo Teoria(s) da arte passa a ter sua significação mais compreendida.
Um outro ponto que Anne trás para a discussão é a Estética, proposta inicialmente no séc. XVIII para abarcar diferentes tarefas que trabalhassem com a noção do belo através de uma tentativa de junção sobre a mesma marca de discursos que tratam mais ou menos do mesmo objeto. A Estética, tratada por Anne, é responsável por designar a área de significação que se desenvolve em torno da arte e proporciona a compreensão de coisas diversas quanto ao seu gênero, papel e sentido, mas ainda tem um  uso muito confuso. É dividida em adjetiva e substantiva onde a primeira – adjetiva -  é abstrata e subjetiva, são as teorias, que trazem o conforto por virem de uma convenção social, uma beleza comum que o proporcionam, compartilhada por todos; já a segunda – substantiva – é a estética de um grupo que se define por características semelhantes, como a estética barroca, romântica e renascentista, por exemplo.
De acordo com o terceiro tópico do primeiro capítulo, o livro se empenhará em definir a Teoria ou o Teórico da Arte como atividade que constrói, transforma ou modela o campo da arte. “Se em geral a relação da teoria com a prática justifica sua existência, é justo essa relação que, em um domínio como a arte, enfatiza o valor de uma teoria”.
Quanto à ação fundadora da discussão, a Filosofia, Anne ressalta que foi Platão quem trouxe a “semeou os grãos da teoria” ao mencionar a arte apenas episodicamente, no encontro da arte e seu conceito – o belo – formando um horizonte Teórico. Outra ação de fundação tratada no texto é o estabelecimento de regras que uma vez seguidas dão fruto à obra de arte ou que ainda proporcionam um julgamento adequado a respeito da arte e do belo,  gênero denominado por Teorias Injuntivas e ilustrado por Aristóteles, Kant e Adorno.
E nada disso seria completo e compreensível se não fosse pelo acompanhamento, sem ele as fundações estariam fadadas ao esquecimento, sem a continuidade, sem os comentários de autores. O acompanhamento é responsável por elucidar o processo artístico ou as próprias obras, a edificar um sistema de leitura, de decifração através de instrumentos conceituais como a lingüística, a semiologia e a história. Denominado de Teorizações Secundárias que modelam a própria prática, assim os artistas se dedicam à uma prática teorizada, nutrida de comentários oriundos de todos esses horizontes. Da mesma maneira que os artistas, o público não chega ingenuamente até a obra, ele também é submetido a pré-noções, a idéia do que é e deve ser a arte.  Essa opinião, tanto dos que acompanham a arte, como dos artistas e do público é o meio que modela indiretamente a maneira de produzir e pensar arte.
No fim do trecho analisado, a autora conclui que as teorias não podem ser consideradas ‘adendos’ que podem ser dispensados, pelo contrário, são o meio indispensável para a vida das obras, dentro do qual a arte se desenvolve e se consuma. E ainda diz que “a obra em si não existe realmente, ela se diz obra por meio e com a condição de ser posta em determinada forma, em um determinado sítio. Pois nenhuma atividade pode ser exercida fora de um sítio que lhe dê seus limites, determine os critérios de validade e regule os julgamentos que serão tecidos a seu respeito”.


NERDS.

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